O que o aumento de gás carbônico na Amazônia significa para populações da região e do mundo

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Por Gabriella Ramos, g1 Campinas e Região

Experimento AmazonFACE é liderado por cientistas da Unicamp, do Inpa e governo britânico — Foto: Maria Clara Ferreira Guimarães/AmazonFACE

O que o aumento de gás carbônico (CO₂) na atmosfera, provocado pelas mudanças climáticas, significa para as populações da região Amazônica e do mundo? Para cientistas, essas implicações são um problema do presente – e é preciso, cada vez mais, pensar em estratégias para mitigar os impactos.

A previsão é que, por conta da ação humana, a concentração de CO₂ no ar da floresta daqui a 35 anos seja 50% maior do que é hoje, mas pesquisadores da Unicamp garantem: as pessoas que fazem parte do ecossistema da Amazônia já têm feito adaptações por conta das mudanças climáticas.

Essa análise dos impactos socioambientais das mudanças climáticas previstas para acontecer até 2060 é uma das principais frentes do experimento científico AmazonFACE. Para tornar a pesquisa possível, os cientistas construíram uma “máquina do tempo” no meio da floresta.

Durante pelo menos 10 anos, essa estrutura vai aumentar artificialmente a concentração de CO₂ no ar em áreas delimitadas. Além da estrutura em si, uma equipe do projeto vai avaliar, no mesmo período, como as populações que dependem da floresta respondem às alterações do clima.

Impactos na prática

A área socioambiental do experimento é coordenada por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP). Para essa equipe, há três perguntas centrais que devem ser respondidas pelo projeto na próxima década:

  1. Como as mudanças na floresta causadas pelo aumento de CO₂ impactam os sistemas socioecológicos na Amazônia?
  2. Como as populações humanas da Amazônia podem se adaptar às mudanças na floresta causadas pelo aumento de CO₂ e pelas mudanças climáticas?
  3. Como o experimento AmazonFACE está impactando, coproduzindo e influenciando políticas públicas?

Para referência, a área delimitada para o estudo possui cerca de 400 espécies de árvores; desse total, cerca de 240 têm registro de uso pelos seres humanos, seja como alimento, matéria-prima ou medicinal.

“Se a gente, com o experimento, consegue entender como essa elevação do CO₂ vai afetar essas espécies, a gente pode começar a pensar em mecanismos a longo prazo para auxiliar as populações que usam essa espécie para criarem mecanismos de adaptação”, explica Maíra Padgurschi, bióloga e pesquisadora de ecologia e sustentabilidade à frente desse componente do projeto.

🌎 Como as mudanças climáticas interferem na prática? Imagine uma espécie de árvore que dê um fruto comestível. Com o tempo, esse fruto passa a ser produzido em menor quantidade ou em épocas diferentes, prejudicando quem tem esse produto como fonte de renda, por exemplo.

Já em um possível cenário de seca, a consequência pode ser o isolamento de populações. “O meio de locomoção na Amazônia é via rio. Se está muito seco, ou nem vai passar o barco, ou já não passa um barco grande. Menos pessoas, menos mantimento, e as pessoas vão ficando isoladas”.

“Esse conhecimento cultural de determinada área para a extração de um fruto, de uma casca de árvore para fins medicinais, pode ajudar nessa resiliência das pessoas, porque o acesso, eventualmente, ao médico, ao posto, vai ficar mais restrito. Já é uma questão complicada, mas ele vai ficar mais restrito ainda por questões hídricas”, explica a pesquisadora.

Risco à cultura

Há, ainda, uma preocupação no aspecto cultural. Isso porque o aumento de CO₂ na atmosfera pode trazer impactos negativos para espécies que têm usos milenares, por meio de um conhecimento sobre a floresta passado de geração em geração.

“Se a gente perde essa espécie, se a gente acaba não usando mais essa espécie para o fim que foi intencionado, que foi gerado um conhecimento sobre, a gente também está perdendo um aspecto cultural”, destaca Padgurschi.

Além da ancestralidade, as espécies presentes na Amazônia também se destacam pelo potencial para serem utilizadas pelas indústrias farmacêutica e alimentícia. “Podemos trabalhar com a realidade que temos ali, e temos instrumentos institucionais no Brasil para isso, mas são necessárias políticas públicas e de fomentação”.

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